
Há coisa mais bela do que ver um sorriso?
Talvez sim, mas para Ela esse era o bem mais elevado, Ver o sorriso iluminando o espelho que apresentava marcas de bolor devido os anos de existência em sua familia. Passava as maõs nos fios de cabelo, tentando ajeita-los de maneira desarrumada. Confiante sorria, confiante se admirava. Era esse sorriso que Ela buscava, sorriso que queria ganhar, sorriso que queria receber.....mas...nunca viera, nunca esteve em suas manhãs, só existia em seus sonhos de menina em corpo de mulher, que vencia os anos, respeita os ciclos, gerava a vida, se entregava ao calor e a força do desejo. Ela queria um sorriso que fosse o Seu Sol..por anos ansiou, por anos pagou analista, por anos teve conselhos de mulheres mais velhas e mais novas...alguns serviam, muitos eram dogmas criados de frustrações coletivas, modelos pré-estabelecidos de comportamentos de "boas moças".
Ela queria esse sorriso, esse que agora fazia com que seu peito se inchar de ar, o sorriso que conectava ela a Terra, colava seus pés ao chão, o sorriso que fazia seu corpo estremecer. O sorriso estava ali, olhando pra Ela através do espelho antigo e mágico, moldura de rococo, tantos detalhes quanto sua alma de mulher. Ela se alimentava desse sorriso nascido das suas lagrimas, fruto de seus inúmeros partos de novas e novas consciências e posturas. Sorriso que veio através de alguns "sim" e muitos "nao". Caiu, se levantou, se refez como as estações do ano, calou nos dias escuros, celebrou as noites claras. Esgueu sua armadura de Guerreira quando se via na multidão de seres opinando, manteve os Veus de Deusa quando sozinha pensava, procurando entender seu futuro nas xicaras cheias de chá, nas taças com o pulsar do vinho.
Ate que ela compreendeu onde teria seu tão esperando sorriso. Morreu dentro de si mesma, numa noite sem data especifica, sem evento, sem alarde, morreu no amanhecer de chuvas e silêncio. Quando menos esperava a Vida a fez nascer, o útero de pseudo segurança de quem achava que era se rasgou em milhoes de pétalas de sangue, ela gritou como se algo em suas entranhas fosse arrancado a forceps. Tudo nela se foi agora.
Ela se ergueu, fraca ainda, se arrastou ate sua cama, se lavou nas lágrimas que saiam sem esforço, até que se perdeu no conforto no sono. E quando acordou, la estava ele, o sorriso, que tanto procurava. Esse sorriso era Dela mesma. Ela, completa, vestida de todas as virtudes e fraquezas. O ar que enchia seus pulmões tinha o cheiro do orgulho, seus dedos ao ajeitar o cabelo, mantinham as batidas do auto-reconhecimento, sua alma estava grávida de amor, suas coxas firmes de força.
Ela olhou o sorriso que por anos buscava. Ele se abriu mais ainda, como uma concha, agradecendo, abençoando.....ele se abriu tanto quanto pode, quando Ela se olho nos seus próprios olhos e declarou a si mesma, com tanta paixão e devoção que suas veias estremeciam:
SOU O QUE SOU! ALGUEM TEM QUE SER!
Dedico essas palavras a todas as mulheres que vencem suas próprias regras e tomam as rédeas de suas vidas, só entregando momentaneamente a quem elas veêm a honra e o valor de segura-las