segunda-feira, 12 de outubro de 2009

A fragilidade de nossa existencia

Sabado agora tinha que ocupar meu tempo enquanto esperava o horario da minha outra atividade e como e costume ja, fui dar uma andada no Cemiterio Municipal de Curitiba, o primeiro da cidade. Fica nua regiao tranquila do bairro Sao Francisco, e bem grande e belo. Foi revitalizado pela prefeitura da cidade e no eu ponto de vista, deveria ser tombando patrimonio historico da cidade, tanto por sua beleza quanto pela sua importancia historica


Nao tenho receio de andar nesse cemiterio, inclusive o acho um lugar bastante propricio pra se sentar e ler, meditar e conversar calmamente, pois o Tempo e uma coisa que nao existe la, existe sim a Eternidade. Mesmo estando no centro da cidade, o ruido dos carros nao atinge quem esta la, o relogio nao anda mais, o calendari0 nao vira tao rapido.


Lugar de paz, serenidade e paz.............e fragilidade também.

Sou adimiradora dos mausoleus...pequenos palacios, reinos, igrejas erguidas pela saudade e dor de quem fica. Erguido em homenagem a quem se foi...que nao seja esquecido jamais. Miniaturas de Taj Mahal, em amor a quem deixou este mundo quando ganhou as asas da imortalidade. Esses mausoleus sao obras arquitetonicas de grande beleza, riqueza de material, nobresa de sentimento, tentativa de que a vida e a obra das pessoas nao seja esquecida.


Enquanto andava pelas ruelas do cemiterio, recebi e dei mais "bom dias" do que quando vou ao mercado ou padaria. Sera uma soliedariedade a saudade coletiva? Somos mais solidarios na dor?

Enfim....andava, num dia tipico de Curitiba...nublado, um ou outro raio de sol que tentava vencer a densidade das nuvens (como tenta vencer a dureza de nossos corações) e com minha maquina fotografica em punho, escolhia mausoleus, estatuas para fotografar. PErcebi u senhor que e observava risonho....como se fosse um anjo a cercar meus passos curiosos por um ambiente nao familiar.

Ate pensei que iria levar uma correção quando se aproximou dando bom dia. Pelo contrario............nos apresentamos, fiquei sabendo sua idade (mais de 70 anos), que e o ultimo vivo da sua familia.Estava limpando o jazigo que um dia habitara também. Conversamos sobre a historia do cemmiterio, que abriga a lembrança de pessoas ilustres desta cidade e outras anonimas, mas tabém importantes. Ate que um dado momento chegamos ao dialogo abaixo:

- sabe filha...sou o ultimo de minha familia. O dia que morrer, ninguem mais se lembrara de mim
(fiquei muda...catartica ao perceber que nossa fragilidade e tao intensa)
- a nao ser pessoas como voce , que ainda percebem a beleza deste lugar, ele falou enquanto ajeitava as flores de plastico, numa tentativa de se manter a vida que ja se foi......
- obrigada............respondi, com vontade de lhe abraçar...mas como ja to curitibana demais (sou de sao paulo) mantenho a polidez da distancia
- realmente aqui e lindo...mais pessoas deveria vir conhecer este lugar, continuei....alem do mais, a cada passo dado nestas ruelas, revivo a historia dos que ja foram...e como trazer oxigenio novo a memoria de que foi esquecido
- talvez daqui uns 50 anos aqui seja um condominio de luxo, prosseguiu o senhor.....mas ainda temos que continuar aqui
Disse isso enquanto limpava o mausoleu que abriga a memoria de sua familia. Umas 4 gerações pelo que entendi..pais, avos, tios..todos numa grande sala esperando o ultimo familiar chegar...e ele (Sr. Mario), limpa o mausoleu com o mesmo cuidado que deve ter por sua casa...Ele procura manchas, pensa na cor que deve ser retocada...tudo deve estar perfeito e belo no dia de sua chegada (enterro) ...mas ainda nao tem data marcada no calendario. Nao se pode ficar euforico co essa mudança....uns poucos amigos estarao presentes....fragilidade

E penso...ninguem sabe o dia que ganhara a liberdade verdadeira das preocupações e dores da existencia humana de cada dia. Nao gostamamos de pensar na morte como o outro lado da vida, entao esquecemos que cemiterios são uma segunda casa. Deveriamos ir la de vez e quando...mesmo com o forte intuito de ser cremada quando nao houver mais o fluxo de ar dentro de mim, nao posso deixar de perceber que a Dor gera os monumentos mais belos, foi essa dor que esculpiu os anjos que velam os tumulos. Foi essa dor que ergueu as estruturas dos mausoleus. E essa Dor que gera as cançoes mais belas e as poesias mais intensas.


Nossas obras eternas sao geradas pela dor?

Buscamos tanto a alegria esfuziante....e e a Dor a mae de todas as obras

Fragilidade deve ser sua mae também.........